domingo, 1 de dezembro de 2013

DEPRESSÃO NA ADOLESCÊNCIA OU "ABORRECÊNCIA"?



Muito se fala que o adolescente é “aborrecente”,  pois se aborrece com facilidade, é irritadiço, demonstra inconformidade com as leis estabelecidas dentro e fora de casa, não tem muito interesse em estudar, passa horas dormindo, troca o dia pela noite, não fica muito tempo em família... Mas é importante percebemos que a linha que separa a normalidade da patologia é muito tênue, ou seja, estes mesmo sintomas citados acima podem fazer referência a um quadro de depressão na adolescência. Por isso, o que você interpreta como ‘firula’ pode estar falando de um sofrimento significativo.
Na década de 70 nem se cogitava o fato de crianças e adolescentes poderem apresentar sintomas que levassem ao diagnóstico de depressão. Foi só a partir de 1975 (digo, recentemente) que a existência da depressão nessa faixa etária foi reconhecida, abrindo as portas para pesquisas e estudos nessa área.  A principio, os critérios diagnósticos para depressão nas três faixas etárias eram os mesmo, mas estudos mais profundos e específicos mostraram que há alguns sintomas típicos a cada fase , pois eles variam com a idade e sua fases de desenvolvimento e maturação. A titulo de curiosidade, apresento os sintomas da depressão segundo o Manual Diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-IV) comparados com sintomas diferenciais da depressão na adolescência citados em artigos científicos sobre o tema:
SINTOMAS DE DEPRESSÃO SEGUNDO DSM IV
SINTOMAS TÍPICOS DE DEPRESSÃO NA ADOLECENCIA
Humor depressivo ou irritável
 Irritabilidade e instabilidade
Humor deprimido
Fadiga ou perda da energia
Perda de energia
Interesse ou prazer acentuadamente diminuído
Desmotivação e desinteresse importante
Agitação ou retardo psicomotor
Retardo psicomotor
Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada
Sentimentos de desesperança e/ou culpa
Insônia ou hipersonia
Alterações do sono

Isolamento
Capacidade diminuída de pensar ou se concentrar ou indecisão

Dificuldades de concentração

Prejuízo no desempenho escolar

Baixa autoestima
Pensamentos de morte recorrentes, ideação suicida, tentativa ou plano suicida.
Ideias e tentativas de suicídio

Problemas graves de comportamento
Diminuição ou aumento do apetite e também do peso


A irritação (explosões de raiva), o humor instável, apatia, hipersonia, isolamento,  aparecem como sintomas típicos da depressão na adolescência  , sendo que o baixo desempenho escolar pode ser um marcador importante.  Alguns sintomas também se diferenciam com relação ao gênero. A baixa autoestima  relacionada a aparência e a popularidade é mais evidente nas meninas, assim como sintomas subjetivos como melancolia, vazio, tristeza e raiva. A problematização da autoestima pode levar as meninas desenvolverem transtornos alimentares  como bulimia, anorexia e obesidade. Já  meninos apresentam seus sintomas no “acting out” (passagem ao ato), ou seja, ficam evidentes nas ações impulsivas e inconsequentes, os famosos ditos ‘problemas de conduta’, sendo que o abuso de álcool na adolescência é um indicador de depressão na adolescência. Importante salientar que ‘sair pra balada’ muitas vezes é interpretado pelos pais como se o filho estivesse bem (está até saindo), mas a festa em alguns casos é a válvula de escape e o álcool algo que amenize a dor ou que faça esquecê-la. A automutilação também é um sintoma que se faz presente na depressão nesta faixa etária. Se  machucar, se cortar pode ter uma característica de autopunição e de comportamento de risco que pode culminar em tentativas de suicídio.
Por se tratar de uma fase de transição entre a infância e a vida adulta , é na adolescência que definimos questões importantes de nossa vida e personalidade. É uma fase de descobertas, repleta de ‘primeiras vezes’, o desconhecido assusta e a insegurança vem. Fase dos amores platônicos, das descobertas sexuais, dos vestibulares, das escolhas diferentes das dos pais, das mudanças no corpo e de escolher “quem eu vou ser na vida” sempre muito pressionado pelo social. Dentro deste cenário, a causa da depressão nesta fase de vida não é clara e acredito que nem possa ser, pois cada ser humano é UM, UNO! Mas existem evidencias científicas que comprovam o peso da hereditariedade, ou seja,  a presença de depressão em um dos pais aumenta três vezes o risco do adolescente também ter a doença.  Eventos estressores (perdas, abusos, traumas) e ambiente familiar também são elencados como fatores de risco para a depressão nessa faixa etária. Família não perceptiva, apoiadora e compreensiva está diretamente relacionada com sintomas depressivos nos adolescentes.

O que torna o diagnostico de depressão na adolescência mais concreto é a perseverança dos sintomas, ou seja, períodos prolongados e duradouros de irritabilidade, isolamento, baixa repentina do rendimento escolar. Os amigos próximos são os que percebem melhor as mudanças de comportamento, inclusive, melhor que os pais. Em minha visão clinica,  acredito que se o adolescente apresenta estes sintomas por três meses ou mais já é hora de criar uma estratégia de tratamento. O tratamento se baseia em psicoterapia e, dependendo do grau, se necessita a atuação do psiquiatra. O adolescente necessita muito de um espaço de fala, pois esta é a fase onde as questões emocionais em ebulição estão melhor identificadas através do subjetivo. Por isso, este  é um alerta aos pais que podem minimizar os sintomas apresentados por seus filhos colocando um rótulo de ABORRECENTE. Esteja atento a ele, converse, esclareça, questione, ouça e compreenda.

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