sábado, 30 de outubro de 2010

"BULLYING"







Entrevista: Rômulo Seitenfus

A psicóloga Kelli Guidini fala sobre Bullying, a agressão física ou mental intencional e repetitiva, praticada por um indivíduo ou grupo com o objetivo de intimidar o outro. A vítima, é quase sempre alguém que se sente incapaz de se defender. Kelli traça um esboço do que geralmente ocorre, citando três personagens: Vítima, agressor e espectador. Confira detalhes desta entrevista que aponta alerta aos pais e profissionais, como forma de atenção às agressões.



O QUE É BULLYING?
Bullying é o termo inglês que pode ser traduzido como: Amendrontar ou intimidar, representado atualmente por atitude violenta (física e/ou psicológica), intencional e repetitiva, praticada por um indivíduo ou grupo com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo que, quase sempre, é incapaz de se defender. Nesse contexto, encontram-se três personagens importantes: Vítima, agressor e espectador.

COMO RECONHECER O BULLYING?
Para reconhecer deve-se observar como ocorrem as relações e os comportamentos. Toda relação hostil que envolva humilhação, depreciação, discriminação, implicância, perseguição com uma atitude maldosa é considerado Bullying. Mas nunca devemos esquecer que o Bullying só acontece porque tem platéia que potencializa as gozações. O espectador é aquele que presencia os maus tratos, não sofre diretamente, mas carrega consequências emocionais, compartilha da perversão ou sofre calado.

O BULLYING É SEMPRE ASSOCIADO AO AMBIENTE ESCOLAR?
O Bullying está diretamente associado à ideia de grupo de iguais, por isso nem sempre ocorre no ambiente escolar. A internet é um novo lugar que vem sendo utilizado como um facilitador do Bullying. Comentários constrangedores de fotos, e-mails ameaçadores, mensagens que inferiorizam no MSN, Orkut, facebook, formspring e outros sites de relacionamento assim como comunidades depreciativas no orkut hoje dão origem a uma nova forma de violência moral, o cyberbullying. A tecnologia vem permitindo que a violência moral seja mais rápida, profunda e anônima. Isso representa um perigo real.


QUEM SÃO AS VÍTIMAS?
Quando pensamos em bullying, na maioria das vezes pensamos que as principais vítimas são os gordinhos, baixinhos, com acne ou alguma alguém que esteja fora do padrão de beleza. Mas o alvo do bullying nem sempre tem alguma característica que foge aos padrões pré-estabelecidos pela sociedade. Em alguns casos, pode ser um sujeito brilhante que por se salientar nos estudos, por exemplo, acaba sendo foco de humilhações. Mas pesquisas apontam que a vítima na maioria dos casos é tímida, com autoestima baixa e geralmente tem uma característica física ou de comportamento que foge ao padrão do restante do grupo. A insegurança e a dificuldade de reação da vítima alimentam a continuidade das agressões. Os ataques contínuos podem desencadear doenças emocionais como fobia escolar, depressão, síndrome do pânico, bulimia e anorexia. Por terem uma personalidade mais introvertida, na maioria das vezes, não conseguem relatar o que está acontecendo com ninguém, por isso geralmente sofrem sozinhos. A vítima se sente acuada, não consegue reagir frente às depreciações e acaba buscando proteção em casa, se enclausurando e fugindo do ambiente traumático que, na maioria das vezes, é a escola.

COMO IDENTIFICAR O AGRESSOR?
O agressor ou bully (valentão) é geralmente um indivíduo que deseja manter sua fama de ‘popular’ e ‘poderoso’ perante os demais. Extremamente julgador e crítico com todos, inclusive com familiares, é aquele jovem que já está acostumado a resolver qualquer conflito pela violência verbal ou física. Não sensível à dor do outro, o agressor se utiliza de qualquer motivo como justificativa da depreciação, desde o corte de cabelo até o estilo diferente. Em situações extremas em que a conversa não surte mais efeito, é possível levar o problema à delegacia de polícia. Na verdade os agressores representam ser pessoas fortes, mas no seu íntimo carregam uma grande inferioridade e carência, por isso procuram ‘chamar atenção’ através do seu falso poder.

O BULLING OCORRE SOMENTE ENTRE ALUNOS OU ABRANGE OS DEMAIS RELACIONAMENTOS DE UMA COMUNIDADE ESCOLAR, COMO PROFESSORES, COORDENADORES E DEMAIS RESPONSÁVEIS?
Sabendo que adolescentes e jovens reparam nas mínimas “imperfeições” e não deixam passar nada, há casos que inclusive professores são vítimas de Bullying. Dependendo da intensidade das agressões, tanto entre alunos quanto com professores ou diretores, a estrutura escolar fica envolvida diretamente, cabendo ela tomar as atitudes cabíveis, sempre buscando envolver a família na prevenção e tratamento da problemática.

O QUE A VÍTIMA DEVE FAZER QUANDO SOFRE DE BULLYING?
Por mais dificuldade de falar que tenha, a vítima deve escolher alguém de sua confiança para contar os fatos. Se não se sente seguro com ninguém próximo é aconselhável buscar ajuda profissional, ou seja, com psicólogos. Geralmente, os pais demoram a saber, por causa do medo de exposição que a vítima tem: “Se eu falar com meus pais, eles vão à escola e isso será mais um motivo de gozação.” Depois de exposto o fato, muitas vezes, o psicólogo pode fazer a ponte com a escola e buscar de uma forma delicada e inteligente trabalhar a questão, não só com os envolvidos, mas com todo o ambiente escolar e familiar. Em todos os casos, a escola deve ser sempre comunicada.

QUAL DEVE SER A ATITUDE DOS RESPONSÁVEIS PELA COMUNIDADE ESCOLAR QUANDO RECONHECEM O BULLYING, TANTO PARA COM A AUTORA COMO PARA A VÍTIMA?
A escola tem uma grande responsabilidade na prevenção do Bullying, para isso deve estar preparada e munida de conhecimentos específicos sobre os comportamentos hostis e agressivos, assim como a inferioridade e passividade da vitima. Os professores são os principais identificadores da problemática, pois conhecem seus alunos. E o melhor modo de identificar o bullying é o professor se colocar no lugar da vitima: “como me sentiria se eu fosse chamada assim?”. O importante é incentivar os próprios alunos a fazer campanha contra o Bullying, criar um espaço de fala e desabafo para eles. Mas acima de tudo a escola deve dar exemplo de respeito às diferenças e também impor os limites.

DE QUE MANEIRA A FAMÍLIA DEVE ATUAR QUANDO SEU FILHO É O AUTOR OU A VÍTIMA DO BULLING?
Nos dois casos é de suma importância que os pais conversem com seus filhos, procurem conhecimento sobre o tema, identifiquem a problemática e busquem ajuda profissional. A família tem papel fundamental no comportamento dos filhos. Um filho violento, julgador, intolerante e acostumado a ver os pais resolvendo conflitos no grito tem grande probabilidade de ser um colega intimidador. Assim como um filho que apresenta baixa autoestima, passivo, diz sim pra tudo, não reage frente provocações e, muitas vezes, é inferiorizado pela própria família, apresenta grande tendência de ser a vitima do bullying. Nesse sentido, a família também deve mudar alguns comportamentos que podem potencializar atitudes agressivas ou passivas demais que comprometam o equilíbrio emocional de seus filhos.