“Enrolei em papel higiênico muitos papeis de
bombons que comi muito rápido e escondida, fui cuidadosa em não deixar nenhuma
pontinha aparecer. Como se eu estivesse cometendo um grande crime, importante era
esconder as provas.
A sensação durante o tempo que como o chocolate é
de anestesia. Mas, o alívio que sinto de ninguém saber que cometi esse crime
contrasta com a com a culpa, pois logo depois que comi todos aqueles bombons
vem a consciência de meu total descontrole. Aí fico me questionando:
De quem estou escondendo meu descontrole?
Por que tenho necessidade de comer tanto?
Cometi realmente um crime? Contra quem?”
Para pessoas ditas compulsivas o diálogo
interno acima relatado gera um mal-estar emocional profundo. Trata-se de um
transtorno: o transtorno compulsivo alimentar periódico(TCAP) ou compulsão
alimentar.
Esse transtorno (TCAP) é uma nova
categoria diagnóstica de transtorno alimentar, descrita no Apêndice B do DSM IV
(Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais) entre as categorias
em fase de pesquisa.
A compulsão alimentar é caracterizada
por um descontrole alimentar no qual há
uma ingesta pesada e desenfreada de alimentos ( na maior parte dos casos hipercalóricos)
em curto espaço de tempo. O TAZ, personagem de desenho infantil, demonstra muito bem esse comportamento alimentar.
Segundo a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa
Silva, autora do livro “Mentes insaciáveis” para que a compulsão
(TCAP_Transtorno Compulsivo Alimentar Periódico) seja devidamente diagnosticado
deve-se levar em conta a freqüência dos
episódios que deve ser de no mínimo duas vezes por semana durante seis meses, a
quantidade caloria ingerida deve ser
alta e o sentimento de descontrole
deve se fazer presente.
Sim, pessoas compulsivas se preocupam
com seu modo descontrolado de se alimentar, sentindo até ESTRANHEZA frente ao
comportamento. Perguntam-se: Por que estou fazendo isso? Por que estou comendo
tanto? Mas não conseguem parar de
fazer.
Apesar de sua origem ser multifatorial
(genética, familiar, sociocultural e psicológica) a compulsão está muito mais
relacionada com emocional, ou seja, com o funcionamento psíquico da pessoa. As
emoções mobilizam o ato compulsivo e vice-versa. O sintoma (comer compulsivo)
acaba gerando um ciclo vicioso descontrole-culpa-descontrole, ou seja,
comer-tristeza-comer.
PERFIL DO COMPULSIVO ALIMENTAR
q
Apresentam
grande dificuldade de lidar com suas emoções, por isso a importância do
autoconhecimento.
q
Muitas vezes,
apresentam dificuldade de demonstrar o sentimento e externar as emoções.
q
Tem pouca
tolerância com frustrações e decepções (“desmoronam emocionalmente” com muita
facilidade).
q
São extremistas:
O funcionamento ou 8 ou 80 da pessoa com TCAP facilita muito a compulsão, pois
se pensa assim: se ao comer 4 bolachinhas recheadas o controle já foi perdido,
então vou comer todo pacote_perdido, perdido e meio.
q
Culpa e
autocondenação se faz muito presente na vida do compulsivo.
q
Obesos
apresentam o transtorno com mais freqüência (o que não exclui o fato de um
’magro’ poder ser compulsivo) o que dificulta o tratamento para a perda de
peso. Indivíduos obesos com este diagnóstico diferenciam-se de obesos sem
transtorno alimentar por apresentarem obesidade mais precoce e freqüentes
oscilações de peso.
q
Compulsivos
apresentam como comorbidade a depressão e a ansiedade. Estudos estão associando
a compulsão com baixa produção de seretonina (substancia do bem-estar).
TRATAMENTO
q
No tratamento
psicológico é de grande importância investigar os sentimentos e crenças do
paciente que estão associados com seu comportamento alimentar.
q
Na pratica
clinica, o conceito de melhora dos episódios compulsivos não tem a perda de
peso como critério principal.
q
Em psicoterapia
devem ser trabalhados os sentimentos de vergonha, inferioridade e baixa auto estima que geralmente
acompanham o compulsivo.
q
No tratamento
nutricional devem-se manter expectativas realistas com relação ao peso (metas)
e formato do corpo.
q
Em casa deve-se
reduzir a exposição de alimentos que tenham simbolismo de ‘tentação’ para o
compulsivo.
q
Por estar
relacionada com a ansiedade e/ou depressão (baixa produção de seretonina), é
indicado a prática de exercícios físicos e também, dependendo do caso, a
inserção de antidepressivos ou ansiolíticos.
q
ATENÇÃO: O
tratamento para o TCAP deve ter como base a interdisciplinaridade, ou seja, é
de suma importância que se busque ajuda na psicologia, nutrição, medicina e na
educação física.